Não é novidade para o mundo de tecnologia que o protocolo mais usado para endereçamento atualmente, o IPv4, está sofrendo de escassez de endereços públicos. Em alguns continentes, como América do Norte e Ásia, esse cenário já é real e não existem mais endereços disponíveis. Mas como proceder? Existem métodos para evitar utilizar muitos endereços públicos, como o NAT. Essa prática torna o ambiente mais complexo de ser gerenciado, mas atende ao propósito. Porém vai chegar um momento, e creio não ser tão distante, que se esgotarão em 100% do globo terrestre os endereços públicos da versão 4. Para isso, as empresas e os provedores de serviços terão cada vez mais que aderir ao IPv6, uma versão mais recente do protocolo de endereçamento. No entanto, vejo muitos administradores ainda reticentes com essa migração, muito por não ter o conhecimento total sobre o novo protocolo ou até mesmo pela complexidade da mudança, uma vez que será necessário reconfigurar e testar todo o hardware e software da companhia. No artigo, serão dados detalhes do funcionamento do protocolo, os benefícios e o porquê esse tabu deve ser quebrado.
Segundo artigo da Cisco, em aproximadamente 2 anos, mais da metade do tráfego de internet será em cima de IPv6. Com essa constatação, fica evidente que as empresas precisam se preparar para receber a nova tecnologia. A TI está passando por um momento ímpar, apresentando ao mundo tecnologias como Internet of Things (IoT), Data Center de próximas gerações, virtualização, containers, entre outros e para garantir o funcionamento dessas novidades a transição para o IPv6 se torna necessária.
Funcionamento
O IPv6 utiliza 128 bits para compor o seu endereço, ao contrário do IPv4 que faz uso somente de 32 bits. Isso o torna sensivelmente maior que a versão anterior. Outro ponto que a nova versão difere da versão 4 é o uso da máscara. Enquanto o anterior fazia uso de um endereço de 32 bits para identificação de rede e host, a versão 6 utiliza parte do seu próprio endereço para identificação de rede, não necessitando de uma máscara específica. Abaixo um exemplo de um IP no formato v6:
2001:0DB8:0000:0000:02AA:00FF:FE28:9C5A/64
Como é possível identificar, o endereçamento está em formato hexadecimal, diferentemente do formato decimal usado no IPv4.
Por que as empresas estão reticentes para migrar para a nova tecnologia?
Porque o novo é sempre arriscado. Muitos administradores com que tenho contato dizem que enquanto não for justificado financeiramente ou tecnicamente, fica muito difícil realizar a adequação para a nova versão. Funcionam mais ou menos naquele ditado “não mexa no que está funcionando”. No atual momento, com tantas formas de adiar a utilização da versão mais recente, a missão de vender a migração para comitê financeiro das companhias é bem árdua. Além de ter que realizar um planejamento complexo que demandaria bastante esforço e gastos com especialistas, os equipamentos de rede se não já possuírem a versão dual-stack, precisarão ser substituídos. Podem imaginar a dificuldade de esse conceito ser aplicado considerando todos esses fatores? Então até ser uma necessidade onde é “ou migra ou para”, os administradores vão empurrando com a barriga.
Os benefícios
Alguns benefícios já foram supracitados no artigo, dando ainda mais força para a migração para o IPv6. Abaixo listo uma série de benefícios que as organizações terão se optarem por utilizar a nova versão.
- Maior número de endereços disponíveis
- Como já explicado anteriormente, o endereçamento IPv6 é formado por 128 bits, possibilitando uma maior combinação para a composição do endereço. Com isso, mais endereços ficam disponíveis e evitam o esgotamento assim como ocorreu com a versão 4.
- Ajuda no crescimento dos negócios da empresa
- Com o avanço da tecnologia, surgiram os dispositivos inteligentes. A chamada Internet of Things, trouxe muitos benefícios para o mundo tecnológico, mas também exige endereçamento que só a disponibilidade do IPv6 entrega.
- Provê maior eficiência de roteamento
- Por reduzir o tamanho da tabela de roteamento, o IPv6 torna o roteamento mais eficiente e hierárquico. Os provedores de serviço podem agregar os prefixos das redes de seus clientes em um único prefixo e anunciar para o IPv6 de internet. Já na versão anterior a fragmentação era feita pelo roteador.
- Processa pacotes com maior eficácia
- Como o checksum não é incluído no IPv6, a versão nova consegue lidar com os pacotes de uma forma mais eficaz e consegue entregar mais performance. Na versão 4 o checksum era calculado em cada hop dos roteadores.
- Provê data flows direcionados
- No IPv6, o multicast substitui o broadcast, poupando banda e evitando tráfego desnecessário. Um novo campo foi adicionado ao pacote que identifica pacotes pertencentes ao mesmo flow.
- Entrega interoperabilidade integrada e mobilidade
- Os dispositivos que usam a versão 6 podem ficar conectados em diversas redes simultaneamente. Isso só é possível devido a capacidade de mobilidade que possibilita que administradores configurem diversos endereços IP para o mesmo equipamento. Ao invés do usuário escolher qual rede quer utilizar, a aplicação tem essa função.
- Simplifica a configuração de rede
- Se o administrador optar, a obtenção de endereço IP na nova versão pode ser feita do lado do cliente. O processo é simples: um roteador envia o prefixo do link local nos advertisements. O dispositivo cliente gera seu próprio IP anexando seu MAC address, convertido em Extended Universal Identifier (EUI) formato 64 bits, para os 64 bits do prefixo de link local.
- Abre portas para novos serviços
- Eliminam a necessidade do NAT, utilizado no IPv4, uma vez que esse recurso não é nem compatível na v6. Fornece conexão ponta a ponta possibilitando uma maior disponibilidade de redes peer-to-peer, VoIP, e o QoS se torna mais robusto.
- Oferece maior segurança
- O IPv4 não foi feito para ser seguro. Com essa premissa, qualquer tentativa de incluir uma camada de segurança no IPv6 é bem sucedida e já faz a versão recente mais confiável. ICMPv6 não será mais bloqueado em firewalls corporativos devido a engenharia segura de seu funcionamento.
O artigo buscou mostrar o funcionamento da nova versão do protocolo de endereçamento, o IPv6. Mostrou sua composição e os benefícios ao optar por este protocolo, tentando esclarecer para o leitor que o desafio sim é grande na migração, porém com um plano muito bem feito trará muitos ganhos.